"A cultura come a estratégia no café da manhã" Essa frase de Peter Drucker é emblemática e bem verdadeira. Vejamos uma situação em uma empresa hipotética: A consultoria de desenvolvimento de software financeiro House Group contratou um Agile Coach para que fosse implementado o ágil na organização, pois o board de diretores entende que implementar o ágil irá melhorar os resultados relacionados aos produtos e serviços que são fornecidos, pois serão entregues mais rápido. O Agile Coach desenha um plano de ação baseado no Scrum e Kanban, onde são propostas para as equipes envolvidas na concepção, desenvolvimento e sustentação, a implementação de sprints e seus artefatos baseados no Scrum (planejamento da sprint, reunião diária, review, retrospectiva), bem como a utilização de quadros Kanban para controlar o fluxo dos trabalhos. Por outro lado, a House Group tem uma cultura onde o mais importante é atender o cliente rápido. Contudo, algumas vezes, "atender o cliente rápido" implica em stress para as equipes envolvidas e constante retrabalho, além das constantes "demandas urgentes" direcionadas pelos gerentes. Ao iniciar a implementação do Scrum e Kanban para a equipe de desenvolvimento, o Agile Coach acaba esbarrando na cultura imediatista da House, onde os desenvolvedores não vêem sentido em uma reunião diária de 15 minutos, pois "há demandas que devem ser entregues 'para ontem'". Mais ainda: quando é feita a retrospectiva, cujo intuito deveria ser a melhoria contínua dos processos mediante planos de ação e engajamento dos envolvidos, esta reunião se torna uma grande "sessão de descarrego", com todos apontando os erros e os culpados. Obviamente, nenhuma solução é apresentada concretamente. Logo, para que a transformação ágil na Consultoria House Group surta o efeito desejado a longo prazo, antes de qualquer framework ou metodologia, a sugestão é de que o Agile Coach promova de forma gradual a mudança de cultura da organização, apresentando os conceitos da real agilidade. Agilidade não necessariamente significa "fazer as coisas rápido", e sim, promover a entrega de valor conforme esperado por todos, com constante aprendizado e errando rápido, além da colaboração real entre todos. E sim, se não é feita a conscientização acerca da cultura ágil nesse cenário hipotético (requer coragem, pois haverá resistência), a cultura comerá a estratégia no café da manhã, almoço e jantar.