A escuridão engoliu o apartamento, repentinamente. O meu pequeno Arthur, de apenas cinco anos, soltou um grito assustado. Do lado de fora da janela, o poste de energia, que antes zumbia pacificamente, agora soltava faíscas azuis e intermitentes, como se um dragão invisível estivesse soltando fogo pelas ventas. O som era o mais assustador de todos: estalos secos, seguidos de um estrondo metálico que ecoava pelas paredes. Era a manutenção da empresa de energia, mas para os olhos de uma criança, era, definitivamente, o fim do mundo.
Eu o peguei no colo, tentando acalmar o tremor em seus braços. “Calma, meu amor, estão só consertando o transformador no poste”, eu disse, mas a minha voz parecia frágil contra o barulho alto. Ele me olhou com olhos arregalados e meio incrédulos, refletindo a luz intermitente das faíscas. A voz dele, normalmente tão cheia de vida, saiu num sussurro trêmulo.
“Mamãe… sou muito menininho para morrer hoje.”
Aquela frase me atingiu como um soco. Eu precisava acalmar seu coração, para resgatar sua alegria antes que o medo a consumisse completamente. O obstáculo quase intransponível era o terror em sua mente, alimentado por um cenário de caos – o poste, um objeto tão comum, havia se transformado em uma ameaça.
Eu o apertei contra mim, sentindo o seu coração pular igual pipoca. Abracei-o, cobrindo seus olhos e ouvidos com minhas mãos. E o som da sua respiração ofegante e sua tremedeira, me dizia que o meu papel naquele momento não era apenas ser mãe, mas ser um porto seguro.
Aos poucos, as faíscas pararam e o estrondo se tornou um zumbido suave. O Dragão malvado, o poste assustador, voltava a ser um objeto inofensivo. Lentamente, ele levantou o rosto, e um pequeno sorriso de alívio se formou em seus lábios. A escuridão ainda estava lá, mas o medo, felizmente, havia se dissipado. No final, o possível fim do mundo foi a de uma tragédia anunciada por seu medo de criança. A história real não era sobre um poste em chamas, mas sobre a força do amor materno, que, para ele, era o único transformador capaz de iluminar a escuridão.