Tenho uma sugestão (que também é uma reclamação) sobre a recomendação abaixo, apresentada no curso Oratória parte 2 - apresentações em público.
"Olhar para cima ao falar pode sugerir que você está mentindo, ao passo que olhar para baixo pode ser interpretado como um sinal de confusão. Por isso, o melhor é olhar para a frente, ainda que se sinta desconfortável e não consiga manter o contato visual por muito tempo. Olhe para a orelha ou o queixo da outra pessoa — em suma, para qualquer lugar que não seja para baixo ou para cima."
Como já comentei em um tópico mais antigo, infelizmente ainda há muito desconhecimento sobre os processos que levam muitas pessoas a terem dificuldade em sustentar um contato visual.
Por vezes elas são interpretadas não só como inseguras, como também mentirosas. Seguir tal regra de bolso apenas alimenta atitudes preconceituosas que prejudicam de sobremaneira indivíduos que muito provavelmente são neurodivergentes. A dificuldade em olhar nos olhos é, por exemplo, uma característica típica do TEA - Transtorno do Espectro Autista. Os Autistas tendem, portanto, a se concentrarem mais nas regiões da boca e do nariz, pois foi dessa forma que eles aprenderam a reconhecer rostos desde o nascimento.
Os "truques" de olhar para a orelha ou para o queixo (ou qualquer outra parte do rosto que não os olhos) não funcionam, simplesmente porque os indivíduos neurotípicos percebem de forma automática o ligeiro desvio em relação aos olhos, pois é neles que eles buscam informações não verbais para interpretar o outro. Tal recomendação funcionaria apenas quando a distância entre os interlocutores for suficiente para que tais desvios não possam ser detectados, uma vez que a visão humana requer uma dada angulação para tanto.
Exigir que tal pessoa fixe o olhar a qualquer custo e admitir que elas sejam mal interpretadas por conta disso não é muito diferente de se exigir que um deficiente auditivo preste a atenção quando o chamamos de longe, fora de seu campo visual, o criticando por não ter respondido prontamente.
Alura, já passou da hora de vocês desenvolverem um curso que caminhe para uma maior conscientização de particularidades como essa.
O mundo não é feito apenas por neurotípicos, e não é porque os neurodivergentes não são a maioria que eles devam continuar a serem forçados a se sufocarem.
Não se fala tanto em diversidade? Só as que podem ser vistas de longe importam?
Alura, já passou da hora!