Embora o planejamento de experiência descrito no artigo “Walt Disney: O primeiro UX Designer do mundo” seja eficaz no contexto comercial criado por ele, é essencial refletir sobre o impacto cultural por trás dessa estratégia. Ao adaptar narrativas tradicionais de povos africanos, indígenas, asiáticos, árabes e nórdicos, a Disney não apenas remodelou essas histórias — ela as moldou conforme os valores e expectativas de um público global padronizado, especialmente o ocidental.
O problema não está em contar histórias, mas em reescrevê-las para encaixá-las em um modelo de fantasia leve, vendável e homogêneo. Elementos espirituais profundos foram suavizados, símbolos foram esvaziados de significado, e muitos contos perderam sua função cultural original. Essa estética “universal” apagou nuances preciosas.
Hoje, várias gerações cresceram conhecendo versões distorcidas de suas próprias tradições. A memória coletiva foi alterada. Imagine, por exemplo, uma criança aprendendo sobre o Saci ou a Iara pela primeira vez através de um parque temático onde o Pato Donald caça criaturas do folclore como se fossem atrações exóticas. Parece absurdo, mas é o que aconteceu com muitos mitos ao redor do mundo.
O verdadeiro ideal de UX não é só criar experiências encantadoras — é respeitar o contexto, a história e a identidade de quem vive essa experiência. Projetar com empatia exige mais do que suavizar dores: exige escutar vozes que foram silenciadas, preservar narrativas que não são nossas, e não transformar o sagrado em entretenimento descartável.
No fim, o melhor UX não é aquele que agrada a todos — é o que honra a verdade de cada um.